Algumas crianças têm dificuldades em lidar com os impulsos. Para elas o mundo só faz sentido se o puderem tocar, subir, desmontar e saboreá-lo.
Os pais destas crianças sentem-se frequentemente exaustos. Sabem que têm de estar presentes em todos os momentos para pôr travão ao jovem explorador. Nesta idade, a disciplina faz-se olhos nos olhos, mão na mão. Vale a pena explicar as coisas com palavras, para que, com o tempo, o seu significado seja entendido.
Mas, por si só, as palavras não contribuem para sossegar uma criança. Nesta idade, a disciplina consiste no ensino de controlo gradual dos impulsos, o que não se aprende num passe de mágica.
Ensinar uma criança a controlar os seus impulsos: (Método Brazelton)
• Capte a atenção da criança: o primeiro passo é conseguir captar a atenção da criança, de modo a que se foque unicamente na mensagem que lhe quer transmitir. Poderá colocar-se diretamente à frente da criança, segurar nas mãos para despertar a sua atenção ou direcionar o rosto da criança para si com um pequeno toque no queixo para que estabeleça contacto visual. Este é um treino quotidiano e que deverá ser sempre realizado da mesma forma para que a criança associe o toque ou o estimulo à necessidade de tomar atenção.
• Seja clara na mensagem: utilize frases curtas, simples e imperativas, como: “Não podes mexer” ou “põe no sítio”.
• Encontre o tom certo da mensagem: é importante que a firmeza da mensagem não se prenda com o volume em que é dita, na medida em que uma mensagem não será melhor compreendida pela criança por ser dita num tom mais alto ou rude. Pelo contrário, a mensagem deve ser transmitida de forma calma, clara e firme.
• Saiba quando permitir ou relevar: Se necessário e caso as regras não sejam cumpridas, deve demonstrar à criança o seu incumprimento retirando o objeto da sua atenção. A disciplina é nos seus pilares uma dinâmica de compensação e punição, mediante um comportamento adequado ou desadequado, reforçando ou desvinculando as ações de acordo com a sua desejabilidade.
• Ajude a criança a compreender o motivo do “não” – em termos simples – pelo qual o seu desejo não pode ser realizado.
• Dê a possibilidade de escolha: Sempre que possível, dê-lhe uma alternativa “Este, não. Mas podes levar o outro”. É uma forma de exercitar a flexibilidade e capacidade de escolha por parte da criança.
• Reforce positivamente: Acarinhe a criança e ajude-a a acreditar que pode aprender, a pouco e pouco a controlar-se, os reforços positivos são muito importantes ao longo deste processo.
• Faça dias equilibrados entre os “sins” e os “nãos”: Quando o dia for repleto de “nãos”, procure também encontrar alguma forma de compensação e equilibrio, algo a que possa dizer que sim. Este equilibrio ajuda a criança a encarar a disciplina como um gesto de amor e não como uma punição.
• Lembre-se que os limites são importantes: Não veja o mau comportamento da criança como um ataque pessoal, em particular em comportamentos desafiantes. As crianças precisam de limites, mas é natural que para os conhecerem vão desbravando terreno. Esta capacidade existe porque a criança tem a segurança parental lhe permite “arriscar” novos comportamentos sabendo que a mãe e o pai são a sua rede de segurança.
• Partilhe esta responsabilidade: a disciplina não se cinge ao contexto familiar ou ao espaço fisico da sua casa. A disciplina e as regras acompanham a criança para onde quer que ela esteja, por isso partilhe com outros adultos que façam parte da vida da criança estas diretrizes. Este é um processo moroso e que muitas vezes desgasta os pais e adultos que acompanham a criança. Não desista!
É importante lembrar que apesar de longo, este é um caminho muito compensador quando finalmente se vêm resultados. A Educação é em si um percurso em constante construção e é nas mãos dos adultos educadores que as crianças depositam a confiança de uma boa orientação.
Cristina Morais, psicóloga /Academia Ramiro Freitas (2014)
Criado em 2014-10-04