A Psicologia Positiva é uma das diversas vertentes da Psicologia, que recentemente emergiu numa tentativa de romper com o rumo negativo sempre referenciado quanto ao desenvolvimento humano, procurando agora compreender através da investigação científica os processos e motivações subjacentes às qualidades e emoções positivas do ser humano.
A chamada Psicologia Positiva teve início com Seligman, que procurou desvendar uma nova perspectiva, com novos objectivos no mesmo objecto de estudo. Porquê procurar o erro no ser humano? Porquê procurar o que de mal nos motiva? Porquê escolher estudar o que é negativo quando temos a perspectiva oposta com tantas mais valias, com melhores motivações e sobretudo a emergência de emoções positivas? Em 2000, Seligman e M.Csikscentmihalyi escreveram “The time has arrival for a positive psychology, our message is to remind our field that psychology is not just the study of pathology, weakness and damage; it is also the study of strength and virtue. Treatment is not just fixing what is broken, it is nurturing what is best".
Aqui, o objeto determinante é o positivismo e a capacidade intrínseca do ser humano para ser o motor do seu próprio sucesso.
Assim são de ressalvar dois conceitos como bases para a construção do ser humano: o otimismo e o pessimismo. Estes podem ser considerados inerentes ao próprio indivíduo pela característica hereditária ou de carácter adquirido como “modo de vida”. Não nos é possível afirmar sermos 100% optimistas ou pessimistas pois em todos nós ambos estão presentes, mas é possível afirmar uma predominância. Esta tendência é essencialmente visível na maneira como pensamos, como escolhemos ver a vida, como lidamos com situações adversas ou favoráveis.
“O copo está meio vazio... ou meio cheio?”
Livros como a “Análise dos contos de fada” de Bertlein ou “História da Alice” entre tantos outros que inundam as prateleiras de Psicologia, começam a integrar este positivismo. A base para um bom desenvolvimento centra-se na educação, nos valores, princípios e ambiente em que nos integramos, na medida em que um ambiente “negativo” conduz tantas vezes a que a criança adquira características pessimistas, facto que, posteriormente, a influenciará ao longo de todo o seu desenvolvimento. Tal como, uma criança que seja optimista adquire esta capacidade em ver o lado positivo das coisas, a capacidade de lidar com as adversidades e uma perspectiva mais optimista através do ambiente familiar, escolar, nas suas relações e nos tipos de indivíduos que se rodeia, contribuindo positivamente para um bom desenvolvimento.
Assim é importante procurar e valorizar o que está bem para podermos alterar o que está mal e não o inverso. Torna-se imperativa uma construção sistémica de competências e não a reparação das incompetências.
“É mais fácil procurar o erro do que encontrar a solução”
Ao contrário do que é entendido no senso comum, o Otimista não é o pateta alegre, que está sempre alheio a tudo, principalmente às adversidades e que estando sempre “de bem com a vida” se figura como uma personagem desenquadrada da realidade. Ser otimista pressupõe características como a valorização do que de positivo a vida nos proporciona, a capacidade de ultrapassar as adversidades, encarar os obstáculos como desafios que nos ajudam a crescer e a adquirir novas competências e não como barreiras impeditivas. O otimista valoriza, estimula e honra o que de melhor os outros têm, proporcionando um bem-estar também aos que o rodeiam, criando ambientes mais saudáveis, bem-dispostos, leves e criativos em que as outras pessoas são contagiadas pelo seu otimismo. A esperança, a motivação, a criatividade, persistência e dinâmica, constituem algumas das características do otimista.
Por outro lado, o Pessimista estrutura-se com características que se opõem às anteriormente referidas, revelando insegurança nas suas capacidades, fraca resistência à frustração e à adversidade, desistindo facilmente. Manifesta grande passividade relativamente a sua própria vida e ao desenrolar dos acontecimentos quer sejam estes bons ou maus. É maioritariamente um indivíduo com uma baixa auto estima, conformista e resignado às situações, que tende a pensar primeiro no que de mal pode ou vai acontecer, já que maus pensamentos atraem o que de mal tememos. Toda a perspectiva do pessimista é ver o “copo meio vazio”, a valorização do que é mau, negativo, do presságio da negatividade, a tendência para as adversidades e o conformismo relativamente aos obstáculos. Uma característica bastante presente no pessimista é a consideração dos factores “sorte” e “azar”, ou seja, o pessimista não se considera responsável ou com um papel preponderante no seu destino atribuindo tal facto à sorte ou ao azar da vida, pois já diz povo que “uma desgraça nunca vem só”.
Também associado ao “Otimismo” ou “Pessimismo” está o chamado Discurso Interno, ou seja, o monólogo interior que desenrolamos em nós mesmos, onde apresentamos a nossa leitura da realidade e interpretação dos factos. É imperativa a mudança na interpretação da realidade para transformar os nossos pensamentos negativos e fatalistas numa perspectiva positiva da vivência da realidade.
No discurso interno do Otimista imperam pensamentos como “vou tentar analisar a causa desta situação ou comportamento para evitar que volte a acontecer” ou “todos os problemas têm uma solução e hei de encontrá-la” ou mesmo “desta vez não consegui o meu objetivo, mas vou alterar o que for necessário e na próxima, terei sucesso”. Um pensamento positivo é determinante para a construção do discurso interno optimista, proporcionando ao indivíduo maior bem-estar, dinamismo, empreendimento e motivação.
Enquanto o discurso interno do Péssimista acaba inevitavelmente por envolvê--lo numa boa de neve de fracassos, pois o insucesso ou a falha ecoam para as várias dimensões da sua vida e desanimam o indivíduo que já prevê que falhará na próxima tentativa. Pensamentos como, “Pois, eu já sabia que não ia conseguir” ou “É sempre a mesma coisa, nunca consigo o que quero” conduzem a um caminho de baixas expetativas e pouco investimento por parte do indivíduo, pois para ele o insucesso já é tomado como certo e inevitável.
Outro ponto a ter em atenção é o modo como o pessimista e otimista lidam com as situações e o modo como distribuem responsabilidades. No caso do otimista, uma situação positiva é vista como algo que se difundirá para as outras áreas da vida, já que o optimismo é visto como contagiante e aqui, o indivíduo valoriza-se como responsável pelo seu sucesso. Já numa situação adversa, o otimista encara-a como algo temporário, ou uma fase que se restringe a determinado âmbito da sua vida.
Por outro lado, temos o pessimista que adopta uma perspectiva totalmente diferente, já que quando se depara com uma situação positiva não só a considera como algo que não durará muito tempo, como também não se estenderá as outras áreas da sua vida. O pessimista atribui frequentemente o sucesso ao factor sorte e para o qual não teve qualquer contributo. Numa situação negativa, o pessimista adopta um pensamento de permanência ou de “há de ser sempre assim”, considerando o negativismo contagiante às restantes áreas, desta vez atribuindo-se como causador e responsável.
Naturalmente, no dia-a-dia todos nós temos momentos de maior otimismo ou pessimismo, mas esta é uma competência que, segundo Seligman, o próprio individuo pode e deve treinar.
Em todas as vertentes: social, familiar, laboral, educacional e pessoal, o modo como vivemos determina a qualidade da nossa vivência. E viver, na verdadeira acessão da palavra, passa pela forma como encaramos a vida no bom e no mau, na integração desses acontecimentos como parte do nosso crescimento e sobretudo a noção de que tanto os momentos bons como os maus nos trazem grandes aprendizagens e nos tornam nas pessoas que hoje somos.
[Cristina Morais, psicóloga /Academia Ramiro Freitas]